Lá em casa, tenho dois meninos com idades bem diferentes: um de 8 e outro de 4 anos. Quem me vê de longe talvez imagine cenas de brincadeiras fofas, carinho entre irmãos, aquele mais velho sendo protetor e o mais novo, um grude amoroso. Mas a realidade? Bem-vinda à vida real: são muitas as brigas. Por brinquedo, por espaço, por atenção. Às vezes por absolutamente nada. Já me peguei pensando: “Será que estou falhando como mãe?” ou “Será que eles vão se amar mesmo depois de tudo isso?”.
Se você também vive essa montanha-russa emocional, respira fundo. Você não está sozinha. A briga entre irmãos é algo muito mais comum — e até mais natural — do que a gente imagina. E, com o tempo e algum conhecimento, a gente pode transformar esses conflitos em oportunidades de crescimento, tanto para eles quanto para nós.
Por que irmãos brigam tanto?
Primeiro, precisamos entender o que está por trás desses conflitos. Nem sempre é sobre o brinquedo, o controle remoto ou quem vai apertar o botão do elevador. Muitas vezes, é sobre território emocional. Irmãos disputam espaço, autonomia e, principalmente, atenção.
No meu caso, o mais velho às vezes se sente “invadido” pelo mais novo, que ainda está naquela fase de querer fazer tudo igual ao irmão. E o pequeno, por sua vez, sente ciúme do que o outro já consegue fazer — e ele não. Ou seja, é um emaranhado de emoções, nem sempre ditas, mas sempre sentidas.
A neurociência nos mostra que o cérebro infantil está em plena construção, principalmente o córtex pré-frontal, que é o responsável pelo autocontrole, empatia e capacidade de resolver conflitos. E adivinha? Esse desenvolvimento só vai se estabilizar lá pelos 20 anos! Ou seja, esperar que crianças pequenas lidem com frustrações como um adulto é injusto com elas — e com a gente também.
Ciúmes: o vilão silencioso
O ciúme é como uma sombra que se esconde atrás de muitas brigas entre irmãos. Ele pode surgir de forma sutil, como uma interrupção frequente, ou de forma mais intensa, como empurrões, gritos e disputas. Mas por trás dessa “birra” existe uma dor: o medo de perder o amor da mãe (ou do pai).
E acredite, esse medo é real para eles. Mesmo que a gente ame os dois com todo o coração, na cabecinha deles o amor ainda é visto como algo que pode ser dividido, como um brinquedo. Por isso, é tão importante validar os sentimentos de cada um, dar espaço para que eles se sintam ouvidos e compreendidos — sem sempre tentar “consertar” a situação de imediato.
Como lidar com as brigas sem perder a cabeça (e a paciência)?
Aqui em casa, já testei de tudo: separar, conversar, castigar, ignorar… Mas com o tempo, entendi que o mais poderoso é ensinar a lidar com os sentimentos antes que o conflito aconteça. Isso não quer dizer que as brigas sumiram, mas que o ambiente emocional mudou.
Veja algumas estratégias que têm funcionado:
1. Nomear as emoções:
Ajudar cada filho a identificar o que está sentindo: raiva, frustração, ciúmes, tristeza. Isso ensina que tudo bem sentir, mas que é possível expressar de outra forma.
2. Criar momentos de conexão individual:
Aquele tempo exclusivo com cada filho, mesmo que seja 10 minutos por dia, faz milagres. É um jeito de dizer “eu te vejo” — e isso acalma o coração.
3. Ensinar resolução de conflitos com empatia:
Em vez de só dizer “parem de brigar!”, que tal mediar com perguntas?
– “O que aconteceu?”
– “Como você se sentiu?”
– “O que vocês acham que dá pra fazer agora?”
Aos poucos, eles começam a internalizar essa escuta e isso muda a dinâmica.
4. Ter paciência com o tempo:
É um processo. Crianças aprendem com repetição, com acolhimento e com exemplos. Então sim, às vezes vão brigar de novo pelo mesmo motivo. Mas a gente vai estar lá, de novo, ajudando a construir essa ponte.
Transformando o conflito em oportunidade
A briga entre irmãos não é o fim do mundo. Pelo contrário: pode ser o início de um aprendizado essencial. Ao mediar esses momentos, estamos ensinando nossos filhos a lidarem com frustrações, a ouvirem o outro, a respeitarem limites e a expressarem sentimentos.
E esse tipo de habilidade, que a gente ensina no meio de uma briga por um carrinho, pode ser a base para relações mais saudáveis no futuro: com amigos, colegas de trabalho, cônjuges e até consigo mesmos.
Dicas De Livros Que Podem Ajudar
Aqui vão algumas indicações de livros que podem te ajudar a compreender melhor a briga entre irmãos, lidar com o ciúmes, desenvolver a empatia e fortalecer o vínculo entre os filhos. Todos têm uma abordagem acolhedora, prática e baseada em conhecimento atual sobre desenvolvimento infantil:
1. “Irmãos sem Rivalidade” – Adele Faber e Elaine Mazlish
Esse é um clássico absoluto e leitura essencial! As autoras mostram, com exemplos do dia a dia, como pais podem ajudar os filhos a se relacionarem de forma mais saudável e cooperativa. Traz estratégias para lidar com ciúmes, disputas e comparações.
Indicado para quem quer aprender como mediar conflitos com empatia e respeito.
2. “Disciplina Positiva para Crianças de 0 a 3 Anos” – Jane Nelsen
Apesar do foco na primeira infância, esse livro ajuda muito a entender o comportamento da criança pequena, o que ela é capaz de processar emocionalmente, e como os pais podem intervir de forma respeitosa e efetiva.
Perfeito para quem tem filhos pequenos e quer começar com uma base sólida de empatia e limites saudáveis.
3. “Crianças Francesas Não Fazem Manha” – Pamela Druckerman
Escrito por uma jornalista americana morando em Paris, esse livro traz uma visão interessante sobre como os franceses ensinam autonomia e respeito desde cedo. Traz dicas sutis de como criar um ambiente familiar mais calmo.
Ótimo para repensar a dinâmica familiar com mais leveza e confiança.
4. “O Cérebro da Criança” – Daniel J. Siegel e Tina Payne Bryson
Explica de forma acessível o que está acontecendo no cérebro infantil em diferentes fases e como podemos ajudar nossos filhos a desenvolverem habilidades emocionais e de convivência.
Fundamental para entender por que crianças brigam — e como ajudá-las a desenvolver empatia e autorregulação.
5. “Educar com Empatia” – Elisama Santos
Uma leitura nacional que acolhe de verdade! A autora fala sobre escuta ativa, conexão emocional e como transformar momentos difíceis em oportunidades de vínculo.
Ideal para mães que buscam acolhimento e ferramentas práticas com linguagem afetiva e realista.
Sugestão extra: livros infantis sobre irmãos e empatia
Para ler com os filhos e promover conversas sobre sentimentos:
- “A Casa Sonolenta” – Audrey Wood (fala sobre convivência em grupo de forma leve e divertida)
- “Eu e Meu Irmão” – Ruth Ohi
- “Quando Estou Com Ciúmes” – Trace Moroney
- “O Grande Livro dos Sentimentos” – Mary Hoffman (ideal para explorar emoções com os pequenos)
Para você, mãe cansada e preocupada
Se você se sente culpada, cansada ou frustrada pelas brigas constantes entre seus filhos, respira. Você não está falhando. Pelo contrário: você está no meio de uma das missões mais complexas e bonitas da maternidade.
Nem sempre vamos ter respostas prontas. Às vezes vamos perder a paciência. Mas cada vez que você tenta compreender, acolher e ensinar — mesmo que com falhas — você está criando um lar onde o amor é mais forte que os conflitos.
E pode ter certeza: esse esforço silencioso vai deixar marcas profundas — de afeto, aprendizado e conexão — no coração dos seus filhos.
Se esse texto te ajudou de alguma forma, compartilha comigo. Como são as brigas aí na sua casa? O que tem funcionado (ou não)? Vamos trocar experiências e fortalecer essa rede de mães que estão aprendendo juntas, um conflito de cada vez.